Produção Artística
Slave Voyages – escultura de dados sobre o tráfico de escravos africanos
Douglas Thomaz de Oliveira
21/04/2020
A escultura na abertura da Bienal da Escola de Belas Artes, 2019
A dispersão de africanos escravizados pelo mundo Atlântico
O presente trabalho consiste em uma visualização de dados física. Insere-se no campo da arte e do design conhecido como data art, em visualização de dados. A presente escultura de dados mostra o tráfico de escravos africanos, considerando o número de homens e mulheres que cruzaram o Oceano Atlântico entre os séculos XV e XIX, tendo muitos deles morrido durante a travessia. Para realizar este projeto, foram utilizados dados abertos, disponíveis em https://slavevoyages.org/, organizado pela Emory University, EUA, como resultado de décadas de pesquisa independente e colaborativa. Ao todo, o Banco de Dados de Tráfego Escravo Transatlântico possui aproximadamente 35.000 viagens registradas. Calcula-se que 12 milhões e meio de cativos partiram da África para as Américas. Trata-se da maior migração transoceânica de um povo até então.
Imagens da Bienal da EBA, 2019
Projeto, pesquisa e criação
Uma pesquisa inicial das várias culturas e etnias africanas identificou o uso de miçangas – ou contas – em ornamentos religiosos e festivos, de africanos e afrodescendentes, marcando uma presença cultural significativa. No Brasil, por exemplo, as miçangas são utilizadas na confecção de guias e fios de conta, que são os colares religiosos usados pelos adeptos das religiões de matriz africana. Essas peças seriam responsáveis por estabelecer a comunicação espiritual com o Orixá ou a Entidade, isto é, representam o elo de ligação entre a matéria e o divino.
Dado o grande número de africanos transportados, optou-se por apresentar os dados distribuídos em períodos de 50 anos, considerando as chamadas grandes regiões de embarque e desembarque de comércio de escravos. Mesmo assim, a maior dificuldade neste projeto foi determinar o valor numérico representado por cada conta, uma vez que os valores atingem a ordem de milhões. No final, considerando o espaço físico de exibição da peça, os problemas de transporte e os custos de execução, foi estabelecido que cada miçanga representaria 10.000 indivíduos. Consulte os esquemas abaixo para obter definições de mapeamento detalhadas.
Lendo os dados sobre o tráfico de escravos na escultura
Cada forma circular indica um período histórico. Os períodos encontram-se divididos a cada 50 anos. Observe, na imagem abaixo, o círculo maior representando o ápice do tráfico, ocorrido entre 1751 e 1800. No último meio século, a escravidão já havia sido proibida em alguns países. Por isso, um círculo tão pequeno.
Vista geral da escultura de dados na Bienal da EBA, 2019
Esquemas de cores das regiões de embarque e desembarque e do diâmetro dos círculos
Exposições
A obra Slave Voyages – esculturas de dados, a dispersão de africanos escravizados pelo mundo Atlântico, de autoria de Douglas Luddens, foi exibida em 2019 na Bienal da Escola de Belas Artes realizada no Paço Imperial e na exposição Os sentidos da forma, o design como ato poético, no Centro Cultural Light.