Comunicação apresentada à X SIAC / Semana de Integração Acadêmica da UFRJ – outubro 2019
Este trabalho é um recorte das reflexões desenvolvidas na dissertação de mestrado em design, que trata da relação entre o design visual e a reprodução dos discursos dominantes. Trata-se de uma pesquisa fundamentalmente bibliográfica, cujos resultados são cotejados e verificados junto a exemplos de projetos realizados na contemporaneidade e no passado recente, e que redundará num projeto de design gráfico de inserção social direta, a ser desenvolvido e implementado pelo mestrando junto a um grupo social específico.
A pesquisa parte do pressuposto de que o design visual é produto da fala histórica do seu tempo. Ele dá formas convincentes e eficazes a ideias, possui capacidade de induzir e naturalizar significados, valores e comportamentos através da fala que profere. Tal fala pode ser a da persuasão para o consumo e manutenção de tradições e cânones de modo acrítico ou pode exprimir ideias que evidenciem o atendimento às demandas da diversidade cultural patente à sociedade.
O design visual tem suas origens num ambiente de vanguarda artística e cultural quando surge enquanto campo autônomo entre os movimentos artísticos do início do século XX, com um sentido de incorporar mais arte ao cotidiano das pessoas. No entanto, tal campo, por meio da escola funcionalista, logo foi absorvido pelo sistema de pensamento dominante no qual é dada ênfase não na diversidade e quebra de paradigmas, mas na universalização das soluções e na reprodução do capital. Intenções históricas têm sido arbitradas por classes dominantes (donas dos meios de produção e difusão) e absorvidas por outras como manifestações naturais da cultura, existentes desde sempre, num processo de incorporação que decorre mais das relações sociais, historicamente hierárquicas, do que de vontades particulares. Esta visão sobre o design se relaciona ao conceito de hegemonia definido por Gramsci como um modo de construção cultural no qual uma determinada cultura se faz dominante com uso de mecanismos para editar e inculcar um senso comum, constantemente renovado (mesmo que ilusoriamente), que se estabelece na experiência cotidiana, como um sistema, não abstrato e intencional, mas naturalmente vivido.
Pode ser confortável viver sob o mito de que tudo está no seu lugar, porém é importante pensar criticamente sobre o lugar que o design ocupa na sociedade e sobre como influencia e é influenciado por ela. O design visual é hegemonicamente encarado como artifício para o consumo acrítico, porém em muitos momentos na história esteve em outro lugar, numa posição de contra-hegemonia, e pode ser utilizado hoje para o estabelecimento de uma outra hegemonia fundamental à sobrevivência da diversidade de identidades culturais.
Referências bibliográficas
- BARTHES, Roland. Mitologias [1957]. São Paulo: Difel, 1980
- MORAES, Dênis. Comunicação, hegemonia e contra-hegemonia: a contribuição teórica de Gramsci [2010]. Porto Alegre – RS Revista Debates, v.4, n.1, p. 54-77, jan.-jun. 2010.
- VILLAS-BOAS, André. Identidade e cultura [2002]. Teresópolis (RJ): 2AB, 2009 (ed. ampl.)